Surge a manhã! Tudo é festa Tudo no campo é prazer.Trinam aves na floresta Hinos do sol ao nascer.Nestas horas misteriosas Em que dos jasmins e rosas Sobem perfumes aos céus,Nestas horas de magiaEm que tudo tem poesia,Meus pensamentos...são teus.Leva o sol seu curso em meio,Tudo inunda em clara luzE só das selvas no seioBranda sombra se produz.Mal se ouvem os zumbidosDos insectos e os gemidosDa fonte caindo além;Nesta hora de ardente calmaDe amor só me falta a almaE este amor...é teu também.Já vai desmaiando o dia,Aumenta o grato frescorE na alameda sombriaGorgeia o alado cantor;Soltam-se os diques às presas,Da rega é a hora, e às rezasConvida o bronze cristão;Cede o trabalho ao descanso;Nestas horas de remansoMeus pensamentos são teus.Noite é já. A Lua altaDos ares cruza a amplidão,Longe, ao longe, o mar exaltaAos céus a vaga canção;E do arvoredo a folhagemQuer, na sua linguagem,Seus bramidos imitar;O sono a terra dominaE a tua imagem divinaMe enleia em brando sonhar!Penso em ti a toda a hora,De manhã, pelo arrebol,Depois, quando à luz da auroraSucede o fulgor do sol;Penso em ti na hora amenaEm que a tarde vai serenaEnvolver-se em ténue véu;Penso em ti de noite escura,E é toda a minha ventura;A mais não aspiro eu.
1858 (Júlio Dinis)